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Evangelicalismo, Movimento Carismático e Retorno à Roma

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O derramamento do Espírito Santo no Século XVI levou milhões de pessoas a redescobrirem a mensagem objetiva da Bíblia acerca da justificação somente pela fé.

John W. Robbins

O derramamento do Espírito Santo no Século XVI levou milhões de pessoas a

redescobrirem a mensagem objetiva da Bíblia acerca da justificação somente

pela fé. Essa doutrina invadiu e transformou a mente dos homens com o poder

divino e mudou o curso da história. A Reforma Protestante foi fundada sobre a

base da restauração da primazia, supremacia e total suficiência da Bíblia e da

justificação pela fé.

Ninguém coloca em discussão o fato de a Reforma Protestante ter

restabelecido completamente a pureza da fé e da prática que é apresentada na

Bíblia. Nem sempre os Reformadores concordavam entre si. Nem sempre eram

consistentes em cada área. Tampouco a igreja abandonara de vez todos os

erros da Igreja/Estado Romana da Idade Média. Mas apesar das diferenças e das

inconsistências, os Reformadores estavam totalmente unidos quanto à

importância da Escritura e da justificação somente pela fé — seus significados

objetivos e sua centralidade absoluta para a fé cristã.

Há uma tendência na natureza humana pecaminosa de afastar-se do Evangelho

objetivo para o subjetivismo religioso, de deslocar o foco central de Cristo para

a experiência cristã. Isso foi o que aconteceu na grande “decadência” da Igreja

Primitiva. E a mesma evolução tem dado lugar entre  os herdeiros do

movimento protestante. O Erro das Seitas

Antes ainda da saída de cena dos Reformadores, diferentes grupos ou seitas

(defensores de ideais de igrejas livres) começaram  a proliferar-se dentro do

movimento protestante e a devastar as igrejas recém plantadas. Esses grupos

diziam que Lutero havia feito um bom começo quando restaurou a doutrina da

justificação pela fé, mas nutriam o sentimento de que ele ficara apenas no

meio do caminho e que deveriam seguir adiante, rumo ao mais alto e ao mais

profundo.

Mas Lutero compreendia que eles se equivocavam acerca das doutrinas-chave

do Protestantismo — somente a Bíblia, e a justificação somente pela fé — e,

no que lhe concernia, se estavam errados nestes pontos, em tudo estavam

errados. “Seja quem for que se afaste do artigo da justificação não conhece a

Deus, é um idólatra”, escreveu Lutero. “Uma vez removido este artigo, nada

mais permanece senão o erro, hipocrisia, impiedade  e idolatria, ainda que

tenha aparência de estar à altura da verdade, da adoração a Deus, santidade

etc..” (What Luther Says [Concordia Publishing House, 1959], Vol. II, 702-704).

Os mestres sectários não negavam a justificação como um passo inicial na vida

cristã. O erro deles residia no antigo descaso da justificação como se fosse

aquilo sobre o que o crente dá inicio e depois passa para coisas superiores. Com

isso, a justificação pela fé nem de longe ocupava uma posição central. O foco

deles afastava-se para além da obra de Cristo para a ação deles próprios, do

objetivo para o subjetivo.

No tempo dos reformadores, os munzeristas e os anabatistas radicais exaltavam

grandemente a obra e os dons do Espírito. O clamor deles era, “O Espírito! O

Espírito!” mas Lutero respondia, “eu não seguirei para onde o espírito deles

lhes dirige”. Eles separavam o Espírito da Palavra, da Escritura. Eram os

carismáticos do Século XVI. Lá, então, encontramos Osiander. No inicio ele foi discípulo e colaborador de

Lutero, mas rompeu com o ensino da Reforma da justificação por imputação

(externa) da justiça e começou a ensinar que o crente é justificado pela

habitação de Cristo e pela sua justiça essencial disso decorrente. Tanto Lutero

como Calvino reconheceram que o ensino de Osiander representava uma volta,

em principio, à idéia católica romana de justificação. Algumas das seitas,

desses grupos ou igrejas livres, perderam o rumo do Evangelho quando

tentaram ultrapassar a justiça que é pela fé, buscando um estado de

impecabilidade absoluta nessa vida mortal sobre a Terra. Os reformadores

também reconheceram que era realmente o perfeccionismo católico-romano

vestido de nova roupagem.

Depois da Era dos Reformadores, o movimento protestante chegou ao período

conhecido como de ortodoxia protestante. Heresias foram resistidas pelas

cuidadosas definições e redefinições da fé protestante. Na Alemanha, o

pietismo surgiu como uma reação contrária à hipocrisia da Igreja Estatal

Luterana formalmente ortodoxa. Mas a tendência definitiva do pietismo era

distorcer o Evangelho objetivo com ênfase exagerada na experiência. Muito do

pietismo alemão recapturou o espírito dos grandes místicos católicos romanos e

se lhes assemelhou em suas devoções cristãs sentimentais (e até mesmo

efeminadas).

Wesleyanismo

A Inglaterra do Século XVIII presenciou um notável movimento que inclusive foi

também uma reação ao formalismo da Igreja Anglicana. A verdade da

justificação somente pela fé tinha sido perdida pela maior parte da igreja.

Eram dias em que os párocos caçadores de raposa amavam mais os seus cães de

caça do que o seu rebanho. Além disso, havia uma crescente classe operária,

excluída e desconsiderada por uma igreja indiferente. John Wesley foi um dos

homens mais influentes do Século XVIII. Sua influência na vida nacional de toda a Inglaterra (em especial na classe operária) foi tão marcante que alguns

creditam ao seu ministério o livramento da Inglaterra de uma revolução

semelhante àquela em que foi mergulhada a França.

John Wesley aparentava crer na justificação somente pela fé. A sua fixação,

entretanto, era com a santificação. Tinha sido profundamente influenciado

pelo pietismo morávio e com certeza pelos místicos  católicos romanos. A

ênfase de Wesley na santificação foi dos principais pontos fracos do Movimento

de Metodista. Junto com a justificação pelo sangue de Cristo, Wesley enfatizou

o poder renovador Espírito Santo para se viver em conformidade com a

verdadeira obediência à Lei de Deus. Aparte da obediência santificada à Lei de

Deus, Wesley declarava, nenhuma alma poderia reter a benção da justificação.

Isso implicou, naturalmente, em justificação pelas  obras. Representou,

portanto, uma volta a Roma.

Wesley desenvolveu a doutrina da inteira santificação, conhecida também

como “segunda benção” ou “perfeição metodista”. Propôs que após a

justificação e um processo de santificação, o crente poderia receber, pela fé,

uma segunda benção repentina que removesse completamente da alma o

pecado natural, possibilitando a inteira santificação, nada mais que o amor

perfeito. Chamou esta experiência de “uma salvação  ainda mais elevada”,

“imensamente maior do que quando alguém foi justificado” (Plain Account, 7).

Wesley e seus pregadores desafiavam seus ouvintes a procurarem essa segunda

benção da perfeição com toda a diligência. Assim fizeram, e deram prova dela

por meio de vidas de séria (às vezes frenética) piedade.

Com Paulo e Lutero, a justificação somente pela fé  era a verdade plena do

Evangelho. Mas no Wesleyanismo, a centralidade e a  total-suficiência da

justificação foram perdidas, ficando esta subordinada à santificação. A própria

justificação podia ser perdida pelo fracasso dos crentes em perseverarem nas

boas obras. Entretanto, ainda que tenha pregado isso a outros,  até os seus últimos dias,

Wesley confessava que francamente não tinha alcançado a sua famosa

“segunda benção”. Ele sempre a perseguiu, mas apenas conseguiu alcançar a

esperança dela. Era por demais humilde e franco em confessar que apesar de

tudo ele sentia pungente o pecado dentro dele.

Infelizmente, nem todos os seguidores de Wesley eram tão prudentes ou tão

humildes quanto o fundador do metodismo. Alguns professaram que tinham

alcançado a segunda benção da inteira santificação. Alguns eram pregadores,

sendo que uns deles chegaram logo a cair na tentação de se imaginarem

superiores a Wesley. O reavivamento metodista foi conseqüentemente

submetido ao arminianismo e ao fanatismo. O fanatismo não aflorou enquanto

por muito tempo os metodistas procuravam a perfeição. Isso emergiu quando

alguns reivindicaram tê-la alcançado.

O Reavivamento Americano e o Movimento de Santidade

O Protestantismo Americano do Século XVIII e do começo do XIX veio se tornar

herdeiro do fervor religioso do metodismo. Os EUA desenvolveram o seu próprio

estilo e marca registrada de reavivamento. Este talhou o temperamento

nacional que foi moldado pelo espírito de fronteira.

A vida na fronteira era crua, rude e excitante. Algumas das pessoas de

fronteira viam igrejas ou pregadores muito pouco, talvez uma vez por ano em

um encontro de reavivamento feita em grandes toldos, as tendas. Assim como

os bezerros que iam crescendo e precisavam ser reunidos num lugar para uma

vez por ano serem marcados, a juventude, da mesma forma, precisava ser

reunida para ser “salva”, enquanto o pessoal mais velho sentia a necessidade

de uma boa “limpeza” assim como no tempo do reavivamento. Assim, Vinson

Synan, historiador do pentecostalismo, disse muito bem: “Os que atendiam a

tais encontros em acampamento… geralmente esperavam que suas experiências religiosas fossem tão vividas como a vida na fronteira que os

cercava. Acostumado com ‘briga com ursos e guerra com índios’, eles

receberam essa religião de grande colorido e excitamento”. (Vinson Synan, The

Holiness-Pentecostal Movement in the United States [Eerdmans Publishing Co.,

1971], 25). Por vezes o fervor religioso foi acompanhado de grandes excessos

emocionais tal como “”ivina histeria”, quedas, convulsões, “riso santo”, latidos

semelhantes a dos cães e “danças antigas como as que Davi fazia perante a

Arca do Senhor”.

No Século XIX, Charles Finney era um evangelista bem sucedido. Já em 1850, o

avivamento dentro do estilo de Charles Finney — se tornou numa espécie de

religião nacional dos EUA. A Teologia Sistemática de Finney (ainda hoje um dos

mais populares manuais de teologia nas igrejas pentecostais) é muito crítica em

relação a Lutero e Calvino face ao ensino deles da justificação pela fé por meio

da imputação da justiça que é de Deus. A ênfase predominante de Finney é na

santificação e na obra de Deus no contexto da experiência humana — uma

ênfase que não é bíblica nem reformada. Sua pregação levava as pessoas à

verdadeira experiência de crise emocional e a uma busca posterior de uma

experiência santidade que poderia ser aceitável a Deus.

Em todas essas influências avivalistas, a ênfase predominante era encontrar

com Deus por meio de uma experiência intima do coração verdadeiramente

dramática, emocional, empírica. Havia um foco muito pequeno em ser

aceitável a Deus pela fé numa justiça não propriamente nossa, mas

completamente externa a nós existente na pessoa de  Cristo. O avivamento

americano era mais subjetivo do que objetivo, mais  centralizado na

experiência do que centralizado no Evangelho.

Em meados do Século XIX, a Igreja Metodista (que era então a maior igreja dos

EUA) experimentou o notável ressurgimento do interesse na doutrina da

“segunda benção”. A década de 1840 testemunhou uma  enchente de ensino

perfeccionista na Igreja Metodista. Líderes pastores, bispos, e teólogos, conduziram o movimento, dando-lhe respeitabilidade  institucional e

intelectual. Este desenvolvimento espraiou-se para outros corpos protestantes,

e em 1869 ficou conhecido como “movimento de santidade”. Publicações

independentes sobre “santidade” pulularam por todo  o País. O movimento

transbordou para a Inglaterra e encontrou expressão na famosa Convenção

Keswick.

A ênfase popularizada do movimento de santidade foi na vida vitoriosa cheia do

Espírito. Seu ponto focal não era nem na justificação nem na conversão, mas na

realização de uma experiência empírica de santidade e inteira santificação

subseqüente à conversão. Boardman, Inskip, A. B. Simpson, R. A. Torrey, e

Andrew Murray eram alguns dos bem conhecidos escritores e líderes do

movimento. O titulo da obra de Hannah W. Smith, O Segredo da Vida Feliz do

Cristão (ainda amplamente circulada hoje), expressa muito bem as aspirações

dos adeptos da santidade. Outros títulos também dizem por si o que pode

geralmente ser detectado, uma experiência maior em vez do Evangelho (A Vida

Vitoriosa, Chaves para um Viver Vitorioso, A Vida Cheia do Espírito etc.). A

linha seguida por estes livros é geralmente em Romanos 7 e Romanos 8: “Sai de

Romanos 7 e entre em Romanos 8” (que, incidentalmente, é decididamente

contrário a tudo o que os reformadores ensinaram).

A natureza objetiva e o valor da justificação e do perdão deixaram de ser o

centro do ensino do movimento de santidade. Isso tudo foi subestimado, e

mesmo rebaixado, devido a preocupação dominante com a experiência religiosa

e o perfeccionismo. O movimento de santidade seguiu pelos corredores

formados pelas rochas do subjetivismo, e por essa causa, veio estar mais em

harmonia com o Catolicismo Romano do que com o ensino da Bíblia. Nos anos

de 1890, a Igreja Metodista tomou medidas administrativas contra o movimento

de santidade. Conseqüentemente, entre os anos 1890  e 1900, vinte e três

denominações de santidade foram fundadas. O Movimento Pentecostal

Ao fim do Século XIX, muitos dentre o movimento de  santidade começaram a

falar e a buscar o “batismo de fogo”. Um ramo do movimento de santidade foi

chamado de “Igreja Holiness do Batismo com Fogo” (originada em Iowa em

1895 e dirigida por Benjamin Irwin). Quem recebia “o fogo” freqüentemente

poderia gritar, berrar, cair em transes, ou falar enrolado. Este “batismo de

fogo” foi considerado como uma visitação milagrosa  do Espírito que seguia à

inteira santificação. Os mestres mais conservadores do movimento de santidade

rejeitaram essa “terceira” benção de fogo, por considerarem a mesma coisa a

segunda benção e o batismo especial do Espírito.

Mas os radicais defensores do “fogo” continuaram exercendo influência dentro

do movimento com ardentes pregações e publicações semelhantes a Live Coals

of Fire – Brasas Vivas de Fogo – (publicado pela primeira vez em outubro de

1899). Este opúsculo falava “do sangue que limpa, do Espírito Santo que enche,

do fogo que queima, e da dinamite que arrebenta”. Não é difícil imaginar as

manifestações excêntricas e desconcertantes que acompanharam o estágio de

explosão religiosa que decorreu. O resultado lógico dessa tendência religiosa

foi o aparecimento no Século XX do Movimento Pentecostal, cujo inicio é

traçado pelo Ministério de Charles Parham em Topeka, Kansas em 1900.

O Dr. Frederick Dale Bruner escreve: “Como resultado dos movimentos de

santidade mundiais, nasceu o movimento pentecostal. O historiador

pentecostal, Charles Conn, aponta ‘que o movimento  pentecostal é uma

extensão do avivamento da santidade que ocorreu durante a última metade do

Século XIX'” (Frederick Dale Bruner, Teologia do Espírito Santo [Edições Vida

Nova, 1977], 44). Diz o notório autor católico-romano e defensor da unificação

da igreja, Kilian McDonnell: “John Wesley foi o pai do intenso fervor religioso

americano do Século XIX, um dos seus filhos foi o Movimento de Santidade de

que originou o pentecostalismo do Século 20″ (Kilian McDonnell, “The Classical Pentecostal Movement,” Vol. I, No. 11 [Maio/1972],  1 ). O movimento

pentecostal esteve envolvido diretamente na questão da insistência que o sinal

físico do falar em “línguas” era a evidência do batismo do Espírito. Esta questão

das línguas causou uma divisão entre o movimento de santidade e o

pentecostal, ainda que a teologia básica dos dois movimentos permanece a

mesma. O pentecostalismo é o resultado inevitável do avivamento subjetivo.

Os avivamentos que ocorreram nos Estados Unidos talvez não fosse do gênero

abertamente pentecostal ou carismático, mas eles tendiam para aquela direção

porque eram acima de tudo orientados para o experiencialismo religioso.

Tendência em direção a Roma

Por mais de 400 anos, têm sido exercidas influências no âmbito do Movimento

Protestante no sentido de corroer a ênfase objetiva da doutrina reformada de

justificativa somente pela fé. Isso não passa de uma volta ao romanismo. Há

alguns anos, o conhecido autor católico-romano, Louis Bouyer, fez essas

impressionantes observações:

A Renovação Protestante …lembra os melhores e o mais autênticos elementos

da tradição católica…. Vemos por toda essa nação  protestante, cristãos que

tem como sua religião o movimento a que chamamos, no geral, de Renovação,

o qual, mais ou menos, não passa de catolicismo…. Os mais valiosos e

duradouros reavivamentos contemporâneos em seus resultados em tudo

apresentam uma impressionante analogia com o processo de redescoberta do

catolicismo…. o rumo que instintivamente se tomam em direção ao

catolicismo … isso pode conduzir ao caminho da reconciliação entre

protestantes e católicos”. ( Louis Bouyer, The Spirit and Forms of Protestantism

[World Publishing Co., 1964], 186, 188, 189, 197 ).

Bouyer conclui com um apelo para os seus confrades  católicos se preparem

para a volta inevitável dos “irmãos separados” sob  a influência dos reavivamentos contemporâneos. Não faz diferença o fato de que muitos

reavivalistas consideram-se anticatólicos, conforme Bouyer anota, eles estão

simplesmente no escuro quanto ao fato de que o cerne da sua ênfase está em

profunda harmonia com o catolicismo. Se o leitor deseja saber o que Roma

pensa hoje sobre os mais populares reavivalistas americanos, pode ficar

seguramente bem informado a respeito através da matéria saída em julho de

1972 no Digesto Católico .

A alguns anos atrás, Paul Tillich abordava o tema, “o fim da era protestante”,

O tipo de protestantismo que tem sido desenvolvido na América não é bem a

expressão da Reforma, mas tem mais elementos do chamado evangelicalismo

radical. Há grupos luteranos e calvinistas, que são fortes, mas em grau

surpreendente eles têm-se adaptado ao protestantismo americano. Este clima

não foi produzido por eles, mas pelos movimentos sectaristas. Assim que

cheguei à América, há vinte anos atrás [em 1933], a teologia da reforma era

quase desconhecida no Union Theological Seminary [New York] por causa das

diferentes tradições, e a redução da tradição protestante avizinhava-se das

tradições não-reformadas. O conflito de Lutero com os evangélicos radicais é

especialmente importante para os protestantes americanos porque o tipo

prevalecente de cristandade na América não foi produzido pela Reforma

diretamente, mas pelo efeito indireto da Reforma através do movimento de

radicalismo evangélico“.(Paul Tillich, A History of Christian Thought [S.C.M.

Press Ltd., 1968], 225-226, 239. Das conferências apresentadas primeiramente

em 1953]).

As últimas décadas têm mais do que justificado as observações de Bouyer e

Tillich. O movimento histórico de volta a Roma tem-se tornado como aquele

lugar onde no Rio Niágara os canoeiros alcançam aquele ponto que não há volta

quando as águas se aceleram em direção às cataratas. O movimento tem-se

acelerado em sua corrida, e evangélicos e carismáticos estão, a taxas

crescentes, sendo re-introduzidos a Roma. O Movimento Neopentecostal ou Carismático

De 1900 a 1960, o movimento pentecostal continuou a crescer fora do

protestantismo convencional. Todavia já em 1960 tinha atingido uma

membresia mundial da cifra de aproximadamente oito  milhões de pessoas.

Naquele tempo, gente como Henry Van Dusen já começava a chamar o

movimento de “terceira força” da Cristandade.

Então, próximo de 1960, teve lugar uma mudança notável quando de repente o

pentecostalismo começou a ultrapassar linhas demarcatórias denominacionais

para penetrar nas igrejas protestantes históricas. Como John Sherrill diz em seu

livro, Eles Falam em Outras Línguas, “caíram os muros”. Logo havia milhares, e

depois milhões, de episcopais, metodistas, luteranos, batistas, presbiterianos,

congregacionais e outros, protestantes-pentecostais. Esta fase

interdenominational do movimento ficou conhecida como movimento

neopentecostal, ou carismático. Não foi um movimento para que houvesse uma

denominação separada, mas uma experiência que transcendesse todas as linhas

divisórias denominacionais. Os que compartilhavam a experiência em

diferentes denominações se viram tendo mais em comum mutuamente entre si

do que com os não-carismáticos da mesma igreja. Muitos confiantemente

previram que este seria o começo do maior avivamento que o mundo jamais

conhecera.

Lá para o fim dos anos 1960, o movimento neopentecostal deu duas de suas

mais esplendidas passadas. Ele penetrou na nova cultura jovem e ficou

conhecido como o Movimento de Jesus. (Estima-se que noventa por cento do

Povo de Jesus, como foram chamados, tiveram alguma forma de experiência

pentecostal). Muitos da cultura da droga ficou “alta” com Jesus ao invés de com

drogas. Então, para o coroamento do seu sucesso, o movimento neopentecostal

entrou na Igreja Católica Romana em 1967. Depois do começo modesto em dois

de seus grandes centros de ensino (Duquesne e Universidade Notre Dame), agora se espalha rapidamente na Igreja Católica Romana, atraindo o apoio de

cardeis, bispos, milhares de padres e freiras, e o  próprio Papa. Visto que os

católicos romanos têm agora recebido idêntica experiência pentecostal que os

protestantes, os pentecostais da velha linha estão re-avaliando a sua atitude

para com o catolicismo romano. Tradicionalmente antipapais, as igrejas

pentecostais clássicas estão mudando sua posição, do “pentecostes” têm-se

mudado para Roma.

Embora o pentecostalismo tenha sido introduzido na  Igreja Católica Romana

inicialmente por pentecostais protestantes, tem encontrando menos resistência

em círculos católicos do que em círculos protestantes. De fato, como muitos

autores católicos estão apontando, o pentecostalismo se sente em casa na

Igreja/Estado Romana. Está mais em casa lá porque a ênfase dominante

pentecostal na experiência subjetiva está em harmonia essencial com o ensino

e tradição da Igreja Romana. Diz o monge beneditino, Edward O’Connor da

Universidade Notre Dame:

Embora tenham se originado da plataforma protestante, as igrejas pentecostais

não são tipicamente protestantes em suas crenças, atitudes ou práticas…. não

se pode pressupor que o movimento pentecostal represente uma incursão da

influência protestante [dentro da Igreja Católica Romana]. … Católicos que

têm aceitado a espiritualidade pentecostal tem-se deparado que esta está em

harmonia com sua fé e vida tradicionais. Eles a experimentam, não como um

empréstimo de uma religião estranha, mas como um desenvolvimento natural

de sua própria … a experiência do movimento pentecostal tende confirmar a

validade e relevância de nossas autênticas tradições espirituais. Outrossim, o

desenvolvimento das igrejas pentecostais hoje parece seguir através de

estágios muitos parecidos o que ocorreu nos primeiros anos da Idade Média

quando a doutrina clássica estava tomando forma ( Edward O’Connor, The

Pentecostal Movement in the Catholic Church [Ave Maria Press, 1971], 23,

32,28, 183, 191, 193, 194 ). Além disso, o neopentecostalismo não faz nada no sentido de perturbar a fé

católico-romana e suas igrejas e tradições. Diz O’Connor:

Semelhantemente, as devoções tradicionais da Igreja têm-se revestido de mais

significado. Algumas pessoas têm sido levadas de volta para o uso freqüente do

sacramento da penitência através da experiência do  batismo do Espírito.

Outras têm descobertos em suas vidas um lugar para  devoção à Maria,

enquanto que antes mantinham repulsas ou indiferença para com ela. Um dos

mais extraordinários efeitos da ação do Espírito Sagrado tem sido o de

promover a devoção à Presença Real na Eucaristia. (Edward O’Connor,

Pentecost in the Catholic Church [Dove Publications, 1970], 14, 15 ).

O Movimento Carismático e Roma

Os anos de 1970 nos trouxeram para a grande fase ecumênica do reavivamento

e do movimento carismático. Em 1º de fevereiro de 1972, a revista Christianity

Today escreveu em editorial:

Ao que parece, a força que se apresenta como a maior contribuição para o

atual avivamento que varre a face da Terra é o pentecostalismo. Este

movimento, que começou a várias décadas atrás, e que em seus anos iniciais

tinha o caráter muito sectário, agora é ecumênico no seu sentido mais

profundo. Parece que ultimamente o neopentecostalismo tem incluído muitos

milhares de católicos romanos…. Uma nova era do Espírito tem começado. A

experiência carismática mexe com os cristãos em coisas que vão além da

glossolalia…. Há uma luz no horizonte. Uma renascença evangélica está-se

tornando visível ao longo da rodovia cristã, das fronteiras dos grupos sectários

aos altos lugares da comunhão católico-romana. Parece ser este um dos

momentos mais estratégicos da história da Igreja. Em maio de 1972, matéria da New Covenant (publicação católica carismática)

destaca os católicos e os protestantes unidos numa  grande confraternização

carismática. Proclama-se que o movimento carismático mantém a esperança de

cura das feridas abertas no Século XVI . Destaque para Henry Van Dusen do

Union Theological Seminary que teria dito:

A presença do movimento carismático (pentecostal) entre nós diz-se que é para

marcar uma nova era no desenvolvimento da cristandade. O novo

pentecostalismo parecerá aos historiadores do futuro a “verdadeira reforma “

(comparada à do Século XVI) da qual nasce a terceira força do mundo cristão

(protestante-católico-pentecostal) (19).

Essa união não está fundamentada na verdade objetiva, mas na experiência

subjetiva. A cristandade americana está afogando num oceano de subjetivismo

religioso. A literatura carismática (e ai incluímos todo este reavivalismo

subjetivo) está infestando a terra como as rãs do Egito (ver Apocalipse 16:13,

14). Nunca se viu uma massa de literatura tão destituída do Evangelho de

Cristo. Praticamente não existe sequer um pensamento objetivo, extrínseco. É

tudo na base do “já que é assim, então é desse jeito”, uma volta ao misticismo

medieval, efeminado, sentimental. Não é de estranhar que um dos pontos de

diálogo entre os líderes pentecostais e os da Igreja Católica Romana é a

semelhança notável entre o pentecostalismo e o misticismo católico. O fato

aterrador é que o desmoronamento das resistências protestantes ao movimento

carismático ilustra a decadência das igrejas protestantes. Até mesmo o termo

Protestante está se tornando uma palavra suja. E ser crítico ao romanismo

virou agora uma obscenidade nos círculos evangélicos. O Cumprimento de Profecia

Multidões estão exultantes por causa da igreja que tem sido impactada pelos

fogos do reavivamento. Não se trata de uma moda passageira, mas de um

notável cumprimento de profecia bíblica. Partamos do principio que os

protestantes tenham geralmente aceitado o fato de que a besta semelhante a

leopardo de Revelação 13 era o símbolo do papado, que dominara a civilização

européia por aproximadamente mil anos. Munida da verdade objetiva da

justificativa somente pela fé, a Reforma provocou no “homem do pecado” a

“ferida fatal”. Ao quebrar a camisa de força do pensamento papal, as nações

começaram a se libertar da dominação papal (ver Apocalipse 13:3). Mas a

profecia do Apocalipse claramente prediz uma restauração da força da igreja

antiga para dominar as mentes e escravizar as consciências dos homens. O

profeta declara:

E operava grandes sinais, de maneira que fazia até descer fogo do céu à terra,

à vista dos homens; e, por meio dos sinais que lhe  foi permitido fazer na

presença da besta, enganava os que habitavam sobre a terra e lhes dizia que

fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia.

(Apocalipse 13:13, 14).

“Fogo… do céu… à vista dos homens” é um quadro terrivelmente preciso da

religião contemporânea envolvida em fogos do falso  reavivamento e do

movimento carismático. Fogo que é o símbolo favorito do movimento

carismático é o utilizado por Deus para descrever o movimento que nada mais é

senão uma contrafação do derramamento do Espírito Santo. Não é realmente

fogo do Céu, mas parece ser fogo do Céu. É “fogo do céu… à vista dos

homens.” Mas, em virtude dessa influência, levará “a terra e os que nela

habitavam” a adorarem “a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada”. (

Apocalipse 13:12). Os últimos dias serão marcados por grandes decepções religiosas. Operando a

pretexto de “fogo…do Céu” (o batismo do Espírito  Santo), “os espíritos de

demônios” operarão “sinais diante dos reis da Terra, para os congregar para a

batalha do grande dia do Deus Todo-Poderoso” ( Apocalipse 16:14; veja também

II Tessalonicenses 2:8-12).

Agora mesmo é considerada blasfêmia falar contra a obra sobrenatural levada a

efeito no movimento carismático. Um espírito de prepotente certeza e

arrogante intolerância tem sido freqüentemente manifesto pelos que “tem o

espírito”. A preocupação com experiência interior tem dirigido multidões a

retornarem à filosofia religiosa da Idade Média e da igreja medieval. O

Vaticano sabe o resultado. Lê-se o que é. Muitos protestantes parecem estar

tão paralisados quanto Melanchthon esteve quando não soube o que falar, ou

não, aos fanáticos espiritualistas que vieram a Wittenberg enquanto Lutero

estava escondido no Castelo de Wartburg. Foi essa a questão que foi levada ao

grande Reformador que o levou a sair de seu esconderijo e arriscar sua vida. Os

líderes “cheios de espírito” conseguiram uma entrevista com Lutera em que

clamavam, “O Espírito! O Espírito!” O Reformador decididamente não ficou

impressionado. “Eu esbofeteio no focinho este seu espírito”, ele trovejou. Ele

viu que a grande verdade da justificação somente pela fé estava

diametralmente oposta a esses assim qualificados por eles mesmos, “profetas

alemães”.

Estamos agora vivendo numa época em que as questões do Século XVI têm sido

de novo combatidas. Avançando para o final desse tempo o conflito se

intensificará. Dobrar-se-ão as velhas linhas demarcatórias denominacionais. O

mundo religioso está se agrupando. De um lado, a grande união de católicos

romanos, pseudoprotestantes e pentecostais que tem  a aparência de ser um

movimento para a conversão de todo o mundo. De outro lado, haverá um

movimento para restaurar o Evangelho eterno em sua pureza original e força. O Evangelho triunfará. Embora o Anticristo possa ser vitorioso num momento, sua

ruína é certa. Uma pequena palavra, e cairá.

Extensivamente revisado e adaptado de um panfleto publicado em 1972 pelo

Australian Forum, uma organização aparentemente extinta.

Novembro/Dezembro de 1986

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