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Três perigos de ser muito ocupado

Três perigos de ser muito ocupado
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Os maiores perigos com estar ocupado não são inconveniências materiais e temporais. Uma pessoa pode realizar trabalho físico 12 horas por dia…

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Kevin DeYoung

Os maiores perigos com estar ocupado não são inconveniências materiais e temporais. Uma pessoa pode realizar trabalho físico 12 horas por dia, seis dias por semana durante uma vida inteira e não sofrer por isso. Na verdade, ele deve ser excepcionalmente saudável. Porém, se a tensão é mental – como é o caso para a maioria dos trabalhos e para a maioria de nós – os efeitos negativos podem ser enormes.

Ainda mais quando as ameaças são espirituais.

Quando estamos muito ocupados, colocamos nossas almas em risco. O desafio não é meramente fazer alguns maus hábitos sumirem. O desafio não é deixar nossas vidas espirituais deslizarem  Os perigos são sérios, e são crescentes. E poucos de nós estão tão a salvo quanto parecemos.

O primeiro perigo é que estar ocupado pode arruinar nossa alegria.  Essa é a ameaça espiritual mais imediata e óbvia. Como cristãos, nossas vidas devem ser marcadas por alegria (Fp. 4.4), ter gosto de alegria (Gl 5.22), e serem preenchidas com plenitude da alegria (Jo 15:11). Estar ocupado ataca tudo isso. Um estudo mostrou que passageiros frequentes enfrentam maiores níveis de stress do que pilotos de caça e policiais de choque (Chester 115). Isso é o que encaramos. O pecado ainda é o nosso pecado, mas não há dúvida que quando nossas vidas são frenéticas e desenfreadas estamos mais inclinados à ansiedade, ressentimento, impaciência e irritabilidade.

Enquanto estava trabalhando em um novo livro nas últimas duas semanas, pude sentir um espírito melhor em mim. Não por causa da minha escrita, mas pelo tempo que eu tirei para escrever. Durante o meu intervalo das pressões de viagens, eventos, e preparação constante de sermões, vejo-me mais paciente com meus filhos, mais atencioso com minha esposa, e mais capaz de ouvir Deus. Obviamente, todos temos semanas e meses em que tudo que pode dar errado, dá errado. Nessas temporadas teremos de lutar por alegria em meio a tanta ocupação. Porém, poucos de nós vão lutar agora pela alegria da próxima semana ao combater hábitos desnecessários da nossa ocupação, que transformam a maioria das semanas  em uma infeliz inconveniência.

Anos atrás ouvi uma entrevista com Richard Swenson, um médico cristão, sobre o conceito de margem. Não há algo unicamente cristão sobre essa ideia, mas há algo muito não-cristão ao ignorá-la. “Margem”, Swenson diz, “é o espaço entre o nosso fardo e nossos limites” (69). Planejamento para margem significa planejamento para o não planejável. Significa que entendemos o que é possível para nós como criaturas finitas e agendamos menos do que isso.

Durante o ano passado, percebi que muitas vezes não planejo uma margem nas minhas semanas, mas, na verdade, margem inversa. Olho para a minha semana e antes de alguma interrupção surgir, ou alguma nova oportunidade aparecer, ou algum contratempo ocorrer, não tenho nenhuma ideia de como vou fazer tudo acontecer. Vejo os eventos que tenho que ter, os sermões que tenho que preparar, os emails que tenho que escrever, os blogs que tenho que postar, os projetos que tenho que completar, as pessoas que tenho que ver e percebo que se tudo acontecer um pouco melhor do que o esperado, poderei apertar isso tudo. Mas é claro, não existem semanas ideais, e, como consequência, não tenho nenhuma margem para absorver as surpresas. Então, me entrego, fico estressado, e fico ocupado. Isso é tudo que posso fazer no momento porque antes não planejei semanas melhores.

Estar ocupado é como pecado: mate-o ou ele está te matando. A maioria de nós cai num padrão previsível. Começamos a ficar sobrecarregados por um ou dois projetos. Então, nos sentimos esmagados pela rotina diária. Então, nos desesperamos de nunca sentir paz novamente e prometemos que algo tem que mudar. Então, duas semanas depois a vida é mais suportável, e esquecemos o nosso juramento até que o ciclo comece tudo de novo. O que não percebemos é que durante todo esse tempo, temos sido um miserável infeliz, mordendo como uma tartaruga e tão pessoalmente envolvido quanto um gato. Quando a ocupação atormenta a alegria, ela atormenta a alegria de todos. 

O segundo perigo é que ser ocupado pode roubar nossos corações.  O semeador jogou a sua semente abundantemente. Algumas caíram no caminho e os pássaros as devoraram. Algumas caíram nas rochas e logo nasceram, somente para secar com o primeiro calor. E algumas caíram entre os espinhos que sufocaram a sua frágil vida. Há uma progressão definida na parábola de Jesus (Marcos 4.1-20). Em alguns corações, a palavra de Deus nada faz. Satanás arrebata o que foi semeado. Em outros corações, a palavra cresce primeiramente e depois desaparece rápido. Perseguições e provações põem o potencial cristão fora de serviço. Porém, na terceira categoria de solo mal sucedido, a palavra vai um pouco mais fundo. A planta cresce, quase ao ponto de produzir fruto. Parece muito um bom solo. A nova vida parece criar raízes. Tudo está no caminho para a colheita. Até que os espinhos chegam.

João Calvino diz que a carne humana é “uma densa floresta de espinhos”. Jesus destaca dois em particular. O primeiro ele rotula como “os cuidados  do mundo” (Marcos 4.19). Você sabe por que retiros, viagens missionárias, acampamentos de verão, e conferências cristãs são quase sempre bons para o seu crescimento espiritual? Porque você tem que desmarcar a sua programação para realizá-los. Você some. Você deixa de lado a sua insanidade normal por um final de semana e encontra espaço para pensar, orar, e adorar.

Para a maioria de nós, não é uma heresia ou apostasia grave que vai inviabilizar a nossa profissão de fé. São todas preocupações da vida. Você tem que consertar o carro. Depois o seu chuveiro elétrico para de funcionar. As crianças precisam ir ao médico. Você ainda não fez a declaração de renda. O orçamento não está equilibrado. Você está atrasado nas notas de agradecimento. Você prometeu a sua mulher que iria ver e consertar a torneira. Você está atrasado no planejamento do casamento. Seus cartões estão chegando. Você tem mais aplicações para enviar. Sua dissertação é aguardada. Sua geladeira está vazia. O seu gramado é muito grande. Suas cortinas não parecem certas. Sua máquina de lavar continua tremendo. Esta é a vida para a maioria de nós e está dificultando nossa vida espiritual.

O segundo espinho está relacionado com o primeiro. Jesus disse que o trabalho da palavra é devorado pelo desejo por outras coisas. Não é que os bens em si são os culpados. O problema está em tudo o que fazemos para tomar conta deles e com tudo o que fazemos para ter mais deles. É de se admirar que as pessoas mais estressadas no planeta vivem nos países mais ricos? Casa de campo, barcos, campistas, timeshares (N.T.:  propriedades que se encontram sobre a posse combinada de um números de pessoas onde cada uma delas recebe um período determinado para usufruir delas ), investimentos, imóveis, motos de neve, carros novos, casas novas, computadores novos, iCoisas – tudo isso toma tempo. Ouvimos incontáveis sermões nos advertindo sobre o perigo do dinheiro. Porém, o perigo real vem depois que você gastou o dinheiro. Uma vez que você possui algo, é necessário mantê-lo limpo, mantê-lo funcionando, e mantê-lo com as últimas atualizações. Se as preocupações da vida não nos soterrar, a manutenção vai.

Jesus sabe o que fala. Por mais que devamos orar contra o mau e orar pela igreja perseguida, no pensamento de Jesus a maior ameaça para o evangelho é pura fraqueza. Estar ocupado mata mais cristãos do que balas. Quantos sermões são despojados do seu poder pelos preparativos luxuosos de jantar e futebol profissional? Quantos momentos de dor são desperdiçados porque nunca ficamos quietos o suficiente para aprender com eles? Quantas vezes a adoração familiar e privada foi pressionada pelo futebol e projetos da escola? Precisamos proteger nossos corações. A semente da palavra de Deus não vai crescer em fertilidade sem a poda para descansar, sossegar e acalmar.

O terceiro perigo é que estar ocupado pode encobrir a podridão das nossas almas. O ritmo agitado da vida pode nos fazer física e espiritualmente doentes. Nós entendemos isso. O que podemos não reconhecer é que os nossos loucos horários são muitas vezes sinais de que uma doença já se instalou.

Desde 2002, a cada outono me reúno com meus amigos do seminário. Nove de nós nos encontramos toda semana, enquanto estávamos em Gordon-Conwell, e quando graduamos fizemos um compromisso de ver um ao outro uma vez ao ano. Comemos muito, rimos muito, e vemos muito futebol. Também conversamos sobre nossas alegrias e dificuldades dos últimos doze meses. Ao longo dos anos, temos notado temas familiares para cada um de nós. Todos temos nossos pecados constantes e problemas previsíveis. O meu é estar ocupado. Quando chega o tempo para eu compartilhar, todos esperam ouvir como eu tenho muita coisa para fazer e não sei o que tirar da minha vida.

Embora possa não soar saudável que homens adultos lidem com os mesmos problemas ano após ano, o sinal saudável é que começamos a tomar mais responsabilidade pelas nossas dificuldades. Percebemos que se os mesmos problemas acontecem com os mesmos homens todo ano, então, talvez o verdadeiro problema esteja dentro de nós. O que dizer sobre mim, que estou frequentemente sobrecarregado? O que eu preciso aprender sobre mim mesmo? Que promessas eu não estou acreditando? Que mandamentos divinos estou ignorando e quais deveria obedecer? Que mandamentos impostos por mim estou obedecendo e quais deveria ignorar? O que está acontecendo dentro da minha alma para que isso surja como o meu principal desafio todo ano?

A presença de muita ocupação nas nossas vidas pode apontar para problemas mais profundos – um desejo de agradar as pessoas, uma incansável ambição, uma indisposição absurda. “Estar ocupado serve como um tipo de tranquilização existencial, uma barreira contra o vazio”, escreve Tim Kreider em seu artigo para o The New York Times. “Obviamente, sua vida não pode ser tola, ou trivial ou sem sentido se você é muito atarefado, completamente ocupado, com obrigações a cada hora do dia.” O maior problema em estar ocupado é que devem existir problemas maiores que você nunca teve tempo para considerar.

Estar ocupado não significa que você é um cristão fiel ou que dá fruto. Somente significa que você está ocupado, assim como todo mundo. E como todo mundo, a sua alegria, o seu coração, e a sua alma estão em perigo. Precisamos da palavra de Deus para nos libertar. Precisamos da sabedoria bíblica para nos guiar corretamente. O que precisamos é do Médico dos médicos para curar as nossas almas sobrecarregadas.

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